segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sexo ou amor. Amor ou sexo.


Quero te fazer uma surpresa essa noite. Qual é? É surpresa, garoto.  Tu sabe que não gosto de surpresas. É sexo? Não. É amor!  Amor? Sim. Amor. Aquele sexo com fantasias eróticas e paixão, mas ao mesmo tempo,  cheio de cuidado, carinho e afeto. Te espero aqui as dez horas. Dez horas? Sim. Dez horas não da, vou estar lendo. Deixa esse livro de lado, vai valer a pena. Tchau.
Desliguei o telefone e comecei a me achar pirada. Que loucura é essa dizer que queria fazer amor com ele?  O nosso relacionamento era sexo, sexo e sexo.  Não tinha amor, não tinha telefonemas nas madrugas, não tinha eu te amo e nem todas essas coisas românticas que os casais fazem.  Só tinha tesão.  Na verdade, não éramos um casal.  Éramos amantes. Eu tinha certeza que eu era amante mesmo ele dizendo que não tinha mais ninguém afetivamente.  Meu apartamento estava como minha vida; na desordem.  Não sabia onde iriamos fazer amor. Era uma surpresa, não podíamos mais usar a minha cama. Olhei pro banheiro, o banheiro olhou pra mim. Era melhor não. Fazer sexo no banheiro, não era fazer amor. Era simplesmente fazer sexo.  
Liguei para uma amiga e disse que queria fazer amor com ele. Ela riu do outro lado da linha e perguntou se eu estava bêbada.  Eu disse que estava sentindo umas coisas meio estranhas nesses nossos últimos dias. Uma puta saudade dele e não era carência. E nem saudade de ver seu corpo sem roupa.  Ela disse para experimentar a sala. Colocar aquela toalha que eu uso para fazer meditação e colocar umas velas em torno dessa toalha. Um incenso, vinhos e cigarros. Desliguei o telefone e comecei a planejar.  Eram nove horas e meu estômago começou a transmitir umas sensações estranhas para meu cérebro. Era a primeira vez que dizia querer fazer amor com alguém.  Sempre tive medo de amar e ser amada. Essa coisa de amar e ter compromisso e ter romantismo e ter carência e fazer amor, nunca foi pra mim. Sempre gostei de coisas mais livres e minha vida estava fluindo bem assim.  Até no nosso ultimo encontro. Subimos uma cerra e ficamos vendo a cidade. Conversando sobre planos futuros e sobre vontades íntimas. Ele me disse que queria ser amado, e eu acabei dizendo que amar é besteira. Fazer sexo era melhor.  Fomos cada um pra sua casa e depois disso, me bateu aquela puta vontade de viver um amor desses de cinema, sem cair no padrão social.  Esses amores que duram três meses e que não perdem a intensidade.  
Organizei a sala. Coloquei minha melhor roupa mesmo sabendo que não a usaria por muito tempo. Perfumei o apartamento. Coloquei o incenso. Fumei um cigarro e liguei minha vitrola com o disco do Neil Young.  Eram 21:45 e meu coração estava apertado.  Queria ver aquele corpo moldado pela natureza e beija-lo por completo. Queria olhar nos olhos e deitar sobre seu peito. E amar, amar, amar e fazer sexo.  Eu queria sentir teu corpo no meu, e sentir o calor da alma através do amor.
A campainha toca.  Dou uma ultima olhada para a sala e tudo pronto. A surpresa estava ali.  Abri  a porta e lá estava ele.  De chapéu-coco, calça preta e uma blusa branca e um  suspensório, com flores vermelhas sobre as mãos.  Ele sabia que eu sentia muito tesão por seu suspensório.
- Boa Noite.
-Boa Noite!
-Então... Qual é a surpresa?
Eu tinha mania de sempre brincar com sua seriedade e fui logo dizendo:  A surpresa sou eu. Não gostou?
- Amei!
Entramos, coloquei as flores no vaso com água em cima da mesa que certamente tomaríamos café durante a manhã. E foi ali que tudo começou. Ele tinha mania de me pedir que sentasse em teu colo e assim o fiz.  Ele passou a mão sobre meus cabelos escorregando-a pela minha barriga. Na barriga apertou forte. Olhei de lado e ele beijou minha bochecha e sorriu. Por ali ficamos, em silencio.
-Qual é? Não gostou da surpresa? Quero fazer amor ou sexo, tanto faz. Eu quero você. Seu corpo. Em mim.
Silencio.
- A verdade é que eu gostei tanto e tanto e tanto que perdi o tesão de fazer sexo e fiquei com uma puta vontade de aproveitar essa noite para observar a beleza da tua alma e não do teu corpo.
E assim, bom, não preciso nem dizer, começamos a amar o amor e não o sexo! 

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