Quero te fazer uma surpresa essa noite. Qual é? É surpresa, garoto. Tu sabe que não gosto de surpresas. É sexo? Não.
É amor! Amor? Sim. Amor. Aquele sexo com
fantasias eróticas e paixão, mas ao mesmo tempo, cheio de cuidado, carinho e afeto. Te espero
aqui as dez horas. Dez horas? Sim. Dez horas não da, vou estar lendo. Deixa
esse livro de lado, vai valer a pena. Tchau.
Desliguei o telefone e comecei a me achar pirada. Que
loucura é essa dizer que queria fazer amor com ele? O nosso relacionamento era sexo, sexo e
sexo. Não tinha amor, não tinha
telefonemas nas madrugas, não tinha eu te amo e nem todas essas coisas românticas
que os casais fazem. Só tinha tesão. Na verdade, não éramos um casal. Éramos amantes. Eu tinha certeza que eu era
amante mesmo ele dizendo que não tinha mais ninguém afetivamente. Meu apartamento estava como minha vida; na
desordem. Não sabia onde iriamos fazer
amor. Era uma surpresa, não podíamos mais usar a minha cama. Olhei pro
banheiro, o banheiro olhou pra mim. Era melhor não. Fazer sexo no banheiro, não
era fazer amor. Era simplesmente fazer sexo.
Liguei para uma amiga e disse que queria fazer amor com ele.
Ela riu do outro lado da linha e perguntou se eu estava bêbada. Eu disse que estava sentindo umas coisas meio
estranhas nesses nossos últimos dias. Uma puta saudade dele e não era carência.
E nem saudade de ver seu corpo sem roupa. Ela disse para experimentar a sala. Colocar
aquela toalha que eu uso para fazer meditação e colocar umas velas em torno
dessa toalha. Um incenso, vinhos e cigarros. Desliguei o telefone e comecei a
planejar. Eram nove horas e meu estômago
começou a transmitir umas sensações estranhas para meu cérebro. Era a primeira
vez que dizia querer fazer amor com alguém.
Sempre tive medo de amar e ser amada. Essa coisa de amar e ter
compromisso e ter romantismo e ter carência e fazer amor, nunca foi pra mim.
Sempre gostei de coisas mais livres e minha vida estava fluindo bem assim. Até no nosso ultimo encontro. Subimos uma
cerra e ficamos vendo a cidade. Conversando sobre planos futuros e sobre
vontades íntimas. Ele me disse que queria ser amado, e eu acabei dizendo que
amar é besteira. Fazer sexo era melhor. Fomos
cada um pra sua casa e depois disso, me bateu aquela puta vontade de viver um
amor desses de cinema, sem cair no padrão social. Esses amores que duram três meses e que não
perdem a intensidade.
Organizei a sala. Coloquei minha melhor roupa mesmo sabendo
que não a usaria por muito tempo. Perfumei o apartamento. Coloquei o incenso.
Fumei um cigarro e liguei minha vitrola com o disco do Neil Young. Eram 21:45 e meu coração estava apertado. Queria ver aquele corpo moldado pela natureza
e beija-lo por completo. Queria olhar nos olhos e deitar sobre seu peito. E
amar, amar, amar e fazer sexo. Eu queria
sentir teu corpo no meu, e sentir o calor da alma através do amor.
A campainha toca. Dou
uma ultima olhada para a sala e tudo pronto. A surpresa estava ali. Abri a
porta e lá estava ele. De chapéu-coco,
calça preta e uma blusa branca e um suspensório,
com flores vermelhas sobre as mãos. Ele
sabia que eu sentia muito tesão por seu suspensório.
- Boa Noite.
-Boa Noite!
-Então... Qual é a surpresa?
Eu tinha mania de sempre brincar com sua seriedade e fui
logo dizendo: A surpresa sou eu. Não
gostou?
- Amei!
Entramos, coloquei as flores no vaso com água em cima da
mesa que certamente tomaríamos café durante a manhã. E foi ali que tudo
começou. Ele tinha mania de me pedir que sentasse em teu colo e assim o
fiz. Ele passou a mão sobre meus cabelos
escorregando-a pela minha barriga. Na barriga apertou forte. Olhei de lado e
ele beijou minha bochecha e sorriu. Por ali ficamos, em silencio.
-Qual é? Não gostou da surpresa? Quero fazer amor ou sexo,
tanto faz. Eu quero você. Seu corpo. Em mim.
Silencio.
- A verdade é que eu gostei tanto e tanto e tanto que perdi
o tesão de fazer sexo e fiquei com uma puta vontade de aproveitar essa noite
para observar a beleza da tua alma e não do teu corpo.
E assim, bom, não preciso nem dizer, começamos a amar o amor
e não o sexo!
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